Patrick Thibodeau e Sharon Machlis, da ComputerWorld-EUA*
No início de 2007, depois de sete anos trabalhando na mesma companhia, Maribeth McIntyre, de 55 anos, foi demitida. “Até aquele momento”, diz, “encontrar trabalho era uma ocupação tranqüila”. Mas isso foi na época pré-crise, quando o mercado de trabalho em TI estava aquecido e profissionais, como Maribeth, gestora de projetos e analista de sistemas com especialização em RH e administração de folhas de pagamento, não tinham qualquer dificuldade em encontrar uma colocação em seu país (EUA).
Ainda no mesmo ano, era comum que Maribeth tivesse duas ou três entrevistas semanais, todas bastante promissoras. Mesmo assim, levou oito meses para que a analista de sistemas conseguisse uma vaga. “Eu começava a suspeitar que fosse haver problemas com minha idade”, lembra a analista.
Nos últimos dois anos, profissionais com idade superior aos 55 anos têm enorme dificuldade em conseguir colocação no mercado de trabalho. Segundo registros do Ministério do Trabalho dos EUA, a taxa de desemprego para ocupações relacionadas à computação subiu de 6% para 8,4%, entre 2009 e 2010. No caso de mulheres, esse número gira em trono de 9,4%, para homens da mesma idade, a taxa de desemprego é de 8%. A taxa de desemprego para profissionais das áreas de TI, do ano passado, no geral, ficou em 5,2% – sem alterações relacionadas ao ano anterior.
Enquanto isso, os números revelam uma tendência inversa para candidatos entre 25 e 54 anos. Nessa categoria, a taxa registrou queda de 5,1% (2009) para 4,4% em 2010.
Com a recessão, Maribeth perdeu o cargo de consultora. Em 2009, conseguiu uma colocação temporária e, em 2010, outro contrato semelhante, findado em poucos meses. Atualmente, a analista de sistemas mantém um diário no site Daily Kos, onde aparece com o nome de Embee. Nele, já havia percebido uma opulência de profissionais de idade avançada reclamarem da dificuldade em conseguir uma vaga. Ao perceber tal movimento, fundou um fórum de nome “50+ and Unemployed (underemplyed) Support Group” (Grupo de apoio aos Desempregados e Subrenumerados com mais de 50 anos de idade, em tradução livre do inglês).
A iniciativa trouxe um volume razoável de retornos. Ela afirma que o propósito do fórum é partilhar ideias e formar redes de contato em que às pessoas é dada a oportunidade de desabafar. “Chega um momento em que seus amigos não aguentam mais ouvir seus lamentos”, conta, bem-humorada.
“O mercado de trabalho de TI mostra sinais de melhora para candidatos de todas as faixas etárias”, afirma Todd Thibodeaux, presidente e CEO da Computing Technology Industry Association ¬ CompTIA (associação das indústrias de computação e tecnologia).
O executivo relata que a demanda por mão de obra em TI está em alta.
Especialmente para os profissionais capacitados a desenvolver soluções para plataformas móveis e especialistas em segurança na integração de soluções em nuvem com outros ambientes.
Por um lado, o segmento de mobilidade é atraente para os jovens. “Já a nuvem e o segmento de saúde são inclinados a contratar profissionais com maior bagagem profissional”, completa Thibodeaux.
Os quarentões de TI brasileiros
No Brasil, mesmo com o mercado aquecido e a falta de profissionais qualificados, a situação não é muito diferente, de acordo com Almir Ferreira de Sousa, professor associado da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA). Em recente reportagem para o site da COMPUTERWORLD, ele declara que a grande dificuldade para os profissionais de TI, com mais de 40 anos, em preservar suas colocações ou se recolocarem quando estão fora do mercado de trabalho, reside especialmente no fato de não se atualizarem.
Munido dessa certeza, Sousa criou um curso gratuito, com duração de dez meses, para executivos de TI, fora do mercado a partir de quatro meses, que desejam a recolocação. Realizado na Fundação Instituto de Administração (FIA), a iniciativa existe desde 2006 e já formou quatro turmas. O objetivo maior é reciclar o conhecimento desses profissionais. “É uma questão de alinhamento com o que está acontecendo no setor. Para isso, elaboramos com esse foco toda a programação do curso”, diz.
As aulas abordam temas como matemática, tecnologia da informação, administração financeira, mercado de capitais, marketing de relacionamento, além de workshops. A faixa etária que predomina nas turmas está entre 40 e 50 anos. “O índice de recolocação é de 75%, um resultado altamente satisfatório”, afirma o coordenador do curso.
Sharon Ann Sulzbeck, de 46 anos, que participou da última turma da FIA, de 2010, já está de volta ao mercado. Depois de amargar quase um ano de desemprego, vítima do famoso corte de custos. “O curso teve início em março e em agosto ingressei na Talent pro Information Technology, empresa de consultoria em TI”, diz.
Formada em tecnologia de processamento de dados pela universidade Mackenzie, Sharon atualmente ocupa o cargo de analista de sistemas e atende o cliente Banco Votorantim. “Tive de dar alguns passos para tras, porque estava acostumada a coordenar equipes”, relata. “Mas o importante é recomeçar.
Traçar novamente objetivos de ascensão. É um novo começo e você tem de estar preparado para esse desafio.” Segundo Sharon, o curso não somente atualiza o profissional, mas especialmente recupera a autoestima. ³Ficamos mais confiantes, trocamos experiências com os colegas na mesma situação e tudo começa a acontecer”, relata.
Maria Paula Menezes, gerente da divisão de tecnologia da Robert Half Technology Brasil, empresa de recrutamento especializado, acredita que há dificuldades sim na recolação de profissionais mais seniors no Brasil, contudo, em muitos casos, ter mais idade é interessante para alguns setores, como na indústria, por exemplo. “Eles preferem pessoas mais experientes e que transmitam poder de liderança”, diz.
Ter um perfil que inclui alta energia, boa apresentação, facilidade de comunicação e atualização é fundamental para vencer o peso da idade em um processo de seleção, na opinião da executiva. “É claro que na faixa etária depois dos 40, o profissional se sente ameaçado pela geração Y”, destaca.
“Mas é importante lembrar que essa geração é muito ansiosa, quer crescer rápido e a maior parte das empresas não tem como atender. É aí que o profissional mais experiente ganha vantagem.”
Sharon também já se sentiu intimidada pela “garotada de TI”, como define essa nova geração. “Mas sei que o fato de eu saber como proceder diante de diretorias, ter tranquilidade para administrar conflitos e gerenciar pessoas me coloca em posição de vantagem”, afirma.
Maria Paula não acredita em um quadro que sentencie os profissionais de TI na faixa de mais de 40 anos no País. “Eles precisam estar abertos à evolução. Assim como qualquer outro profissional dos variados setores da economia”, diz e acrescenta que as profissionais de TI estão ganhando terreno.
“Eu mesma estou coordenando um projeto para uma empresa cliente, que deseja uma alta gestão e diretoria formadas por mulheres. Elas estão em alta no Brasil.” Mas, segundo ela, observa-se ainda certa resistência para os cargos de coordenação de equipe, por exemplo, que lidam com quadros de missão crítica em TI, com SLAs agressivos e ambientes de 24 x 7.
“Muitas empresas acreditam que as mulheres não têm o pulso necessário para comandar áreas críticas, infelizmente.” “Nunca fiquei sabendo qual foi o real motivo de eu não ter conquistado uma vaga depois de uma entrevista. Eles nunca falam”, relata Sharon. “Não sei se pela qualificação inadequada, pela idade, ou pelo fato de ser mulher. Até mesmo por todo esse bloco. Por um lado pode doer, e, por outro, já ajudaria a me adaptar para outras entrevistas”, diz. “O importante é se reciclar, seguir em frente, buscar em si mesmo o que há de melhor e não ter medo de recomeçar”, ensina.
* Colaboração nacional de Solange Calvo